Como o tempo voa!...
Sim... à dias que não actualizo o meu blog... E eu que nem dei conta de ser tanto tempo assim... :(
À pouco tive notícias de um senhor muito querido, muito boa pessoa... Sempre que ia a aldeia de meu pai, ele falava-me com uma simpatia extraordinária e, como pessoa de aldeia, ainda ficavamos alguns minutos falando, muitas vezes sobre a vida... Sempre que ia à fonte buscar água, passava por sua casa e lá o encontrava à janela a ver o tempo... Conversávamos tanto quando ia para a fonte como quando já vinha com o jarro cheio... Ultimamente já não andava bem. Parece que tinha caído dumas escadas e ficou com muitos problemas nas pernas... nos últimos tempos andava de moletas e ainda assim... Sua cara já não era a mesma... Aquele ar cansado da vida, um olhar fraterno tentando dizer sim à vida, sua boca falando que qualquer momento próximo deixaria a vida... E deixou mesmo esta quarta-feira... Para quem conhece Gouviães, a “aldeia dos músicos”, comunico tristemente que esse homem, que nos ficou no coração pela beleza da sua maneira de ser, era o Sr. Horácio...
Ontem, alguém do qual tive (e dalguma forma ainda tou) alguns bons meses afastada, depois de uma vida inteira sempre próximos, perguntou-me por um textozinho que fizera à uns tempos atrás. É datado de 28 de Outubro de 2001 e, apesar de já não estar actualizado, pô-lo-ei de seguida, não integralmente, a pedido dele...
O Silêncio da Luz
Estamos às portas de Novembro. Só hoje a hora mudou! Ao fim de semana costumo acordar por volta das 13 horas ou mesmo às 15 horas como foi à 8 dias atrás!! Mas hoje, por surpresa, levantei-me “cedo”!
Este domingo foi como tantos outros: de manhã fui à missa e à tarde não saí de casa. Estudei durante longas horas piano e escrevi uma carta (...).
Neste momento escrevo iluminada pela única luz do meu quarto: uma vela! Sinto-me bem. Estou deitada na minha cama e rodeada de quatro paredes cheias de coisas... Do que eu mais gosto de fazer é sonhar, e realmente gostava de ter um quarto só para mim e se possivel mais simples!... Nas prateleiras é só bonecos, “bibelôs” ou coisinhas de enfeitar. Duas das prateleiras só têm livros, os quais nem conheço na sua maioria. À minha frente encontro o órgão da minha irmã (que é mais velho que eu!) e por cima a janela que faz ligação com a varanda. Do lado oposto está a porta que nos leva à entrada. Neste momento está fechada. Gosto de sentir-me eu própria, procurar-me quem sou, onde estou, como sou... Agora olhei para a chama da vela e deparei-me como o seu medo. A cada relâmpago que cai aqui perto, ela estremece... e estremece... e estremece... Estamos as duas com medo desta trovoada assustadora... Está a chover torrencialmente, e não é decerto novidade que já haja algum lugar inundado algures por aí...
Meu pai chegou agora a casa. Está todo molhadinho e com o cabelo todo em pé!! Já lhe contei o que aconteceu: a história de ter faltado a luz (nessa altura estava sózinha... apanhei um cagaço!! Mas não lhe disse que a minha irmã tinha saído), contei-lhe da vizinha que tinha ficado presa no elevador (coitada, ainda é uma miúda... nem me quero imaginar fechada naquela máquina toda às escuras...!!). Também lhe falei da dificuldade que tive ao tentar fechar a persiana da varanda. Estava um vento tão forte, as cortinas não paravam de dançar e chocarem contra mim, o mesmo da chuva que era tanta e me impedia de abrir os olhos... Por fim consegui!...
É dificil o silêncio viver nesta casa... Não falo da bela e assustadora trovoada que me está a deixar assustada, mas do próprio barulho do Homem. Custa-me muito concentrar-me... é meu pai a chamar-me de um lado, a minha irmã a tropeçar na minha cama do outro, minha mãe com a televisão alta ou a trabalhar na cozinha (que é mesmo aqui ao lado do meu quarto)... Quando estou sozinha sinto-me tão diferente... Ao bocado, quando faltou a luz pela primeira vez, ouviram-se vários ruídos: aquela rapariga fechada no elevador a gritar e a bater na porta para ser acudida, as pessoas a deixarem cair as coisas ou a tropeçar nelas à procura das lanternas e isso... Mas depois de 2 ou 3 minutos, quando fui para a janela com a minha companheira vela, nasceu o silêncio!! Não se ouvia quase nada!! Os alarmes dos carros já se tinham calado e naquele momento era sómente eu, a vela e aquela tempestade que parecia não acabar...
(MT, 28Out2001)
Assim termino o meu blog de hoje... Confesso que tanta coisa mudou!... :( Mas só assim vivemos passagens diferentes na vida... sejam elas bonitas ou tristes...
Um apertado abraço para ti que tiveste paciência em ler as minhas irrelevantes palavras que já nada mais têm de vida...
À pouco tive notícias de um senhor muito querido, muito boa pessoa... Sempre que ia a aldeia de meu pai, ele falava-me com uma simpatia extraordinária e, como pessoa de aldeia, ainda ficavamos alguns minutos falando, muitas vezes sobre a vida... Sempre que ia à fonte buscar água, passava por sua casa e lá o encontrava à janela a ver o tempo... Conversávamos tanto quando ia para a fonte como quando já vinha com o jarro cheio... Ultimamente já não andava bem. Parece que tinha caído dumas escadas e ficou com muitos problemas nas pernas... nos últimos tempos andava de moletas e ainda assim... Sua cara já não era a mesma... Aquele ar cansado da vida, um olhar fraterno tentando dizer sim à vida, sua boca falando que qualquer momento próximo deixaria a vida... E deixou mesmo esta quarta-feira... Para quem conhece Gouviães, a “aldeia dos músicos”, comunico tristemente que esse homem, que nos ficou no coração pela beleza da sua maneira de ser, era o Sr. Horácio...
Ontem, alguém do qual tive (e dalguma forma ainda tou) alguns bons meses afastada, depois de uma vida inteira sempre próximos, perguntou-me por um textozinho que fizera à uns tempos atrás. É datado de 28 de Outubro de 2001 e, apesar de já não estar actualizado, pô-lo-ei de seguida, não integralmente, a pedido dele...
O Silêncio da Luz
Estamos às portas de Novembro. Só hoje a hora mudou! Ao fim de semana costumo acordar por volta das 13 horas ou mesmo às 15 horas como foi à 8 dias atrás!! Mas hoje, por surpresa, levantei-me “cedo”!
Este domingo foi como tantos outros: de manhã fui à missa e à tarde não saí de casa. Estudei durante longas horas piano e escrevi uma carta (...).
Neste momento escrevo iluminada pela única luz do meu quarto: uma vela! Sinto-me bem. Estou deitada na minha cama e rodeada de quatro paredes cheias de coisas... Do que eu mais gosto de fazer é sonhar, e realmente gostava de ter um quarto só para mim e se possivel mais simples!... Nas prateleiras é só bonecos, “bibelôs” ou coisinhas de enfeitar. Duas das prateleiras só têm livros, os quais nem conheço na sua maioria. À minha frente encontro o órgão da minha irmã (que é mais velho que eu!) e por cima a janela que faz ligação com a varanda. Do lado oposto está a porta que nos leva à entrada. Neste momento está fechada. Gosto de sentir-me eu própria, procurar-me quem sou, onde estou, como sou... Agora olhei para a chama da vela e deparei-me como o seu medo. A cada relâmpago que cai aqui perto, ela estremece... e estremece... e estremece... Estamos as duas com medo desta trovoada assustadora... Está a chover torrencialmente, e não é decerto novidade que já haja algum lugar inundado algures por aí...
Meu pai chegou agora a casa. Está todo molhadinho e com o cabelo todo em pé!! Já lhe contei o que aconteceu: a história de ter faltado a luz (nessa altura estava sózinha... apanhei um cagaço!! Mas não lhe disse que a minha irmã tinha saído), contei-lhe da vizinha que tinha ficado presa no elevador (coitada, ainda é uma miúda... nem me quero imaginar fechada naquela máquina toda às escuras...!!). Também lhe falei da dificuldade que tive ao tentar fechar a persiana da varanda. Estava um vento tão forte, as cortinas não paravam de dançar e chocarem contra mim, o mesmo da chuva que era tanta e me impedia de abrir os olhos... Por fim consegui!...
É dificil o silêncio viver nesta casa... Não falo da bela e assustadora trovoada que me está a deixar assustada, mas do próprio barulho do Homem. Custa-me muito concentrar-me... é meu pai a chamar-me de um lado, a minha irmã a tropeçar na minha cama do outro, minha mãe com a televisão alta ou a trabalhar na cozinha (que é mesmo aqui ao lado do meu quarto)... Quando estou sozinha sinto-me tão diferente... Ao bocado, quando faltou a luz pela primeira vez, ouviram-se vários ruídos: aquela rapariga fechada no elevador a gritar e a bater na porta para ser acudida, as pessoas a deixarem cair as coisas ou a tropeçar nelas à procura das lanternas e isso... Mas depois de 2 ou 3 minutos, quando fui para a janela com a minha companheira vela, nasceu o silêncio!! Não se ouvia quase nada!! Os alarmes dos carros já se tinham calado e naquele momento era sómente eu, a vela e aquela tempestade que parecia não acabar...
(MT, 28Out2001)
Assim termino o meu blog de hoje... Confesso que tanta coisa mudou!... :( Mas só assim vivemos passagens diferentes na vida... sejam elas bonitas ou tristes...
Um apertado abraço para ti que tiveste paciência em ler as minhas irrelevantes palavras que já nada mais têm de vida...
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