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Confidências de uma tocadora de piano

Música de fundo: tema do filme "O Piano"

sábado, janeiro 31, 2004

Mais um dia...

Lá fora, o nevoeiro esconde o céu. A chuva não para de cair à tanto tempo e, apesar de ainda só serem 15h50 da tarde, cada vez está mais escuro...

Oiço neste momento (só por acaso!) o Estudo opus 25 número 12 de Frederic Chopin, também chamado de “Ocean Etude”. É incrivel como hoje de manhã, num ensaio das 9h45 às 12h45 com outra aprendiz de piano, eu consegui tocar este estudo ao andamento que oiço nesta gravação que tenho. Talvez não tenha sido bem a este andamento, mas... talvez por milésimas de segundo não o tenha sido. Nunca tinha tocado assim tão rápido aquele estudo, mas sei que fui inspirada por já estar a tocar a algumas horas, por minutos antes ter tocado num piano duro e com as teclas pouco suaves e por, minutos antes, ter ouvido uma miúda sensacional a tocar muito rápido umas peças que lá tinha... Não foi só rápido, mas muito muito rápido mesmo! E ela que só tem uns 13 anos...
Agora ando a ensaiar com ela o Concertino para dois pianos de Schostakovich. É lindo! Mas muito raro de se encontrar...

Acho que, mesmo lentamente, tou a ultrapassar a minha crise pianística... Infelizmente já durou mais que um mês, mas uma professora sensacional e duas peças que me fazem entrar em mim (as duas que referi à pouco), a acrescentar de mais alguns pormenores como por exemplo essa rapariga com quem tenho tocado tanto, fazem-me sonhar e assim ultrapassar, pouco a pouco, a vontade indesejada de não tocar e de não me querer ouvir tocar...



O textozinho de que falei ontem foi um trabalho que a stora de português fez intenção de nos surpreender numa aula de sexta-feira às 8h30. Ela pretendia que comentassemos por escrito naquela hora a expressão “Ser descontente é ser homem”...

A expressão “ser descontente é ser homem” de Fernando Pessoa, assemelha-se a outras que ele escreveu como “triste de quem é feliz”. Eu concordo com ambas as expressões. Penso que uma pessoa feliz conforma-se com o que tem e já não procura ir mais além. Eu não desejo que todos sejamos pessoas descontentes, mas devemos ter consciência que precisamos de um sentido para viver, para nos sertirmos úteis e o facto de não estarmos felizes com o que temos, faz-nos lutar e sentirmo-nos vivos não por acaso, mas com sentido.
O termo homem pode ter mais de um significado. Neste caso, Pessoa refere-se àqueles que lutam e não desistem, que têm “músculos” para continuar a sonhar e a tentar até conseguir...
“Ser descontente” não é propriamente andarmos pelos cantos, melancólicos e cheios de lágrimas... É sim nunca estarmos satisfeitos com o que temos para, mesmo inconscientemente, puxarmos mais por nós próprios. Caso contrário seremos, como afirma Pessoa, mais um “cadáver adiado que procria”...

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