Excertos de "Lembro-me, por acaso"
Lembro-me, por acaso.
Ao fundo da sala, num cantinho, estavas tu. O espaço, muito pequeno, o suficiente para te enaltecer. Apesar das cortinas fechadas, desfloravas uma atracção luminosa, cantando baixinho ao ouvido o vísivel do abstracto. As teclas não eram tocadas à anos, mas a música tocava-me em vários tons.
(…)
Envolveste-me nesse teu clarão, pintando todo o vazio em redor de vermelho, de paixão.
(…)
Experimentei então um dos pedais, o da direita, tocando o estudo nr.1 op.2 de A. Scriabin. De início tropecei algumas vezes nas teclas, pois nunca me habituara a a tocar sem me certificar primeiramente das coordenadas dos dedos. Estava assim, naquele momento, às “claras”, pois o estranho clarão mantivera-se sempre intenso.
Toquei aquele estudo um número incontável de vezes, jamais chegando ao fim. Perdia-me imenso na música e só conseguia continuar voltando atrás…
Lembro-me, o tempo não existia. Não havia preocupações, nem horários a cumprir. A música preenchia-me completamente…
(…) eis que me aproximei do fim… aquele fim! A partida para o lugar que me identificava, que me fazia tocar num eu desconhecido…
Com o quarto dedo aterrei suavemente sobre um acorde em pedal e deixei soar. Lembro-me, ficou a soar…
Talvez a nossa música nunca se tenha tocado em si.
Talvez o teu olhar nunca se tenha cruzado por mi(m).
Apenas relembro, por acaso, a esquina em que a minha sombra contigo viveu, através de um olhar somente.
(Excertos de "Lembro-me, por acaso", MT)
1 Comments:
SIMPLESMENTE LINDO!!!
ADOREI MM!!
Ñ tenho mm mais nd a dizer Fátima. O texta tá mm Magnifico. Gostei mm mt d o ler...
Bjs fofos**************
Joana Gil
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