Para sempre... ausência...
Com a garrafa de vinho na mão, pegou no copo dela e encheu-o, como há anos o fazia. Poisou o copo na mesa e, olhando para o vazio do lugar dela, apercebeu-se que ela não estava. Que ali não estaria de novo, para beber do copo que ele sempre enchera.
Suspirou.
“Depois de amanhã faz 54 anos que nos casámos!”, disse em voz timbrada, num silêncio que apertou o vácuo existente numa só respiração.
Ficou olhando para o outro lado da janela, enquanto as pessoas, imperceptíveis, enchiam seus pratos.
Antes de começar a almoçar, olhou para o céu. Virou o seu olhar uma última vez para o copo que enchera enamoradamente, e disse num leve sussurro inacabado:
“o meu sol já se foi embora…”
Descansa em paz, minha avó querida...
(22 Dezembro 2004)
posted by FT | 23:59
1 Comments:
Para sempre... a indelevel saudade por um amor que não tem fim...
Como perceber 54 anos de histórias, de sonhos, de palavras, de silêncios, de sorrisos, de choros, de esperanças... de fracassos... Como perceber 54 anos de vida num amor que se foi desenvolvendo e cada vez mais profundo ganhou raízes nos mais imperceptiveis gestos de amor...
Como perceber 54 anos de olhar o céu sentindo o seu sol na terra...
Como viver agora para o céu porque o seu sol já partiu à frente, para lhe indicar o caminho...
Só olhos meigos de uma ternura sem fim... só um coração sempre atento ao coração do outro... só um espírito em comunhão com Deus pode perscrutar tudo o que acontece no mundo que não se vê...
É assim que tu és... algo de indizivel que vai dialogando com o mundo numa melodia sempre nova, sempre atenta... sempre muito meiga...
Quem me dera... um dia... voar nas notas que de ti exalam...
Porque te ris?!...
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