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Confidências de uma tocadora de piano

Música de fundo: tema do filme "O Piano"

domingo, maio 30, 2004

Angélico...

Thy hand, Belinda,
darkness shades me.
On thy bosom let me rest,
more I would,
but Death invades me;
Death is now a welcome guest.

When I am laid in earth,
May my wrongs create
no trouble in thy breast;
remember me, but
ah! forget my fate.

(Cupids appear in the clouds o're her tomb)


Ontem foi concerto à noite... Gravei a segunda estrofe desta última fala da Dido na Ópera Dido e Eneias de Henry Purcell, cantada pela Leila Moreso... O nervosismo predominante, mas a sua expressão facial e musical celestiais... pena que as máquinas não captem a beleza natural das coisas e as torne mecânicas...

Dido's Lament (da Ópera Dido e Eneias) na voz de Leila Moreso
(clicar com o botão direito do rato em cima e escolher abrir numa nova janela)


Possível Tradução:
A tua mão, Belinda;
Envolvem-me as sombras.
Deixa-me descansar no teu peito.
Mais eu quero,
mas a morte invade-me;
a morte é agora uma visita benvinda.

Quando jazer sobre a terra,
que os meus erros não te criem
problemas ao teu peito;
recorda-me, mas, ai!,
esquece o meu destino.

(Cupido aparece nas nuvens, sobre sua tumba)

terça-feira, maio 25, 2004

Olhar inacessível, Toque impenetrável

Hoje... hoje não toquei.

O cansaço do que me mantém viva fechou-me os olhos por um dia quase inteiro da minha vida.

Tenho vontade de falar, de gritar... de me exaltar e tirar a imensidão de ódio que preenche o meu vazio. Não com "humanos" mas... meu Piano? Onde estás?? Não te toco mas procuro-te... e em mim sinto as teclas da amargura que se revoltam em contratempo. Sinto a luta entre o branco e o preto das Tuas teclas que seduzi.

Não quero o esboço sonoro que toco, mas a música que só nós alguma vez tocaremos.

domingo, maio 23, 2004

Como as quatro estações de Vivaldi

___Hoje senti necessidade de procurar as partituras que tocava à anos, na viragem das folhas da minha vida, distantes do drama actual.
___Sentei-me ao piano, o piano do meu canto, e, de porta fechada, toquei... tentei tocar como antigamente, como a primeira vez que olhei para aquela partitura, num momento de inverno... mas é como se tivesse corrido para trás, e o outono permanecesse... como se chegando ao sétimo compasso, a barra de repetição não me permitisse interpretar a continuidade obscura da tonalidade maior...

quarta-feira, maio 19, 2004

A dois, a dois...

___Dizias-me tu...
___Faremos tudo a dois e viveremos a dois. Acompanharemos cada nota da nossa vida e partilharemos a mesma pauta musical, onde duas melodias distintas, a tua e a minha, se fundirão numa só harmonia, perfeita e consonante. Formando auditivamente uma única sintonia, estaremos sempre juntos; e quem te ouvisse, ouvir-me-ia a mim também...
___Teríamos “fugas” na nossa música, com alguns contrapontos imitativos, mas seríamos eterna e exclusivamente a nossa própria música, a mesma vida.

17 Maio 2004
- Jardim da Estrela -

terça-feira, maio 18, 2004

Humidade no olhar...

Ando, vejo e oiço. Falo só para mim, mesmo de braços atados.

Já não toco música... ja nao vivo.

sexta-feira, maio 14, 2004

Esperando pela continuação das aulas...

___Deitada no chão indiferente de “uma” escola, olho para o céu numa moldura pintada de árvores e edifícios deteriorados. Furo o meu olhar por entre as folhas verdes e alegres das árvores, que dançam a música do vento e contemplo as cores unidas do céu.
___O cantar de um melro desvia a minha vista, fazendo-me desejar voar na sua liberdade e matar o meu corpo. Por momentos oiço o escuro... e quando sinto a negação de outro desejo, vejo o céu preto. Fico pensando na simplicidade do que já só peço agora e elevo-me à satisfação quase total da minha raiva... quase...
___Recebo, naquele momento um toque no telemóvel e acordo.

Agora, porquê ficar na escola (e com quem) quando tenho furos???

Sento-me. Retiro uma caneta preta e o bloco de notas e, mexendo o café, penso.
As palavras não saem, mas o barulho permanece. À minha frente um piano de cauda... lindo! Mas só lhe tocam por via de negócio (...).
Um café vazio, o açúcar invisível e eu?? Como me descrever???!!
Vou-me embora, para o destino incerto daquelas aulas, como qualquer palavra que não pensa e que, tremendo, se despede num sorriso prometido pelo luar do dia.

- Atrium do Saldanha, num furo das aulas da manha de hoje-

__

Agora que me reli outra vez, interrogo-me se alguém é capaz de analisar a minha escrita, e dizer-me porque escrevo “assim”... e porque o meu refúgio está sempre nas “artes”... e porque... porque tanta coisa... porque... porq... po... p...

...

quinta-feira, maio 13, 2004

Uma frase simples...

Li hoje:

A vida consiste toda ela em:
- Querer e não conseguir
- Conseguir e não querer

quarta-feira, maio 12, 2004

Tudo...

Peço nada, nada em troca.
Uma dor, disfarçada por um sorriso melancólico, destrói as esperanças do presente sonhado.
Poder, prepotência, prazer... porquê? Pra quê?? Quando podíamos todos partilhar a felicidade...

Hoje já nem consigo escrever... não só por razões fisicas, mas também porque tenho os conceitos perdidos por quem eu nunca soube que podia ser...Sinto demasiada raiva, não me sinto em mim. Destroio-me, sei disso, mas é inevitavel porque nem me sinto... Vivo como se num sonho e assusto-me quando vejo no meu telemovel as horas reais da ultima chamada recebida...
q fiz eu? Pego na tesoura e frente ao espelho corto o que quero rasgar, e lavando a cara com as minhas proprias lagrimas caio no chão,
adormecida como sempre estive.

sábado, maio 08, 2004

Sentindo o nada, o além...



"No inconsciente as imagens tornam-se transparentes, mostrando o lado invisivel das coisas..."

Associando algumas palavras duma forma desacordada (mas nem estava a dormir), só consegui pensar nesta frase que incorporei enquanto me faziam uma espécie de psicoterapia na quinta-feira passada, dia 6...

Cá fora, depois de ter saído da sala, à margem da aula de Coro de Camara, acrescentei sem conseguir pensar em mais nada:

"O tempo passa, a noite começa a desvendar-se levemente, e só quando a brisa mais fresca nos surpreende é que nos apercebemos que apesar de olhos abertos, estivemos cegos fisicamente. O psicológico torna-se insusceptivel aos sentidos e incompreensivel à lógica natural do concreto."

Interrogo-me agora que releio... existo realmente??!

terça-feira, maio 04, 2004

Para lá da música

Nestes últimos anos da minha vida ouvi frequentemente as perguntas: “Como é possível estudar música e ao mesmo tempo procurar seguir um outro curso?” “Como aguentar quase 50 horas de aulas semanais e ainda ter tempo para trabalhos escolares?” No entanto, isto pode acontecer quando o amor por uma arte é mais forte do que qualquer bem material.

“Maria” sonhava seguir o curso de música no secundário, mas na devida altura barraram-lhe o caminho, “a não ser que tirasse, paralelamente, outro curso numa escola oficial para ter a equivalência do 12ºano”. A adaptação não foi fácil e mais do que uma vez pensou em desistir. Surgiram problemas de saúde, chegando ao ponto de não conseguir tocar piano, a sua paixão, por ter os braços “presos” das dores e da falta de forças...

Exprimir por palavras o que “Maria” viveu por duras semanas é estranhamente redondo. Andamos à volta do mesmo sem conseguir chegar ao centro, ao que realmente se sente no recôndito. Quando se tem algo é muito difícil pensar na sua importância. Todavia, como será viver sem os dois braços?... No entanto, o afastamento de algo que amamos pode ser positivo na medida em que lentamente nos permite descobrir cores previamente imperceptíveis.

A música, sentida como terapia, faz ver cores em tons incertos da nossa vida. A dificuldade em conciliar várias ocupações na mesma fase da vida pode ser terapeuticamente sustentada pelos efeitos da música. Qualquer sensação auditiva pode influenciar os ritmos cardíacos ou respiratórios, o que é positivo se associarmos estilos como o barroco, clássico ou romântico ao stress de Lisboa. Pode também ampliar os limites da fala, actuando como um recurso alternativo à comunicação verbal, trabalhando assim como um trabalho psicoterapeutico.

A terapia musical tem ainda pouca aceitação, devido particularmente ao número e à natureza limitada de provas clínicas. Contudo, têm sido avaliados resultados positivos no que diz respeito à redução dos níveis de medicação e a melhoria da qualidade de vida das pessoas, nomeadamente em crianças autistas.

Aproximando-me do fim desta crónica, relembro “Maria”, uma moça, vítima da música e dos sonhos destruídos, procurando pelas cores nas cordas paradas do piano, sem quem lhes toque. No entanto, a sua esperança permanece, agora que sente a música como terapia para sorrir e aprender a viver.

Oiçam uma música alegre com boas recordações quando vos faltar o sorriso, e será mais fácil compreender todas as palavras que escrevi hoje.

Saudações musicais!

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Minha crónica para o Jornal "O Clarão" da Escola Secundária de Camões

sábado, maio 01, 2004

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Sabes... queria dizer-te q gosto muito de ti...
(sim, de ti que nem sei quem és ou nem te conheço...)
e q as vezes n somos nós q controlamos a nossa vida... mas é ela q nos controla...

Não me deixaram continuar a fazer a fisioterapia esta semana.... a primeira vez q a fiz, eu tava bem (em termos de cabeça) ja me tinham posto laser nos pulsos, depois agua kente.... logo a seguir 10 minutos de gelo..... e qd a medica me massajava os braços com uma pomada, eu estava sentada, supostamente bem, e dum momento para o outro vi tudo completamente branco... nao me lembro de mais nada... só sei que em segundos perdi a minha visao e desmaiei...

Quando acordei, tinha medicos a minha volta...
O medico viu meu coraçao disse q tava tudo bem. Ele fez o kestionario habitual... qd tinha comido, o quê, etc.... fisicamente tava bem...

Disse-lhe q à coisa de uma semana e dois dias tinha tido outra kebra de tensao e q tava a ter varios efeitos secundarios de todos os medicamentos q o meu medico de familia me receitara naquelas ultimas semanas.....

Foi nesta terça feira e tava um calor desgraçado... eu tremia muito...
O medico disse q era nervos... e q, por muito q tentasse curar o fisico, jamais o conseguiria pq o psicologico nunca estaria bem enquanto nao o tratasse......

Eu ate nem tinha feito praticamente nada de manha... os profs tinham dado pouca materia, e na aula pratica de duas horas eu tinha ficado no meu canto, com o meu discman a ouvir musica e a escrever a minha cronica....
eu tava bem, sentia-me bem, entendes?
n tinha ninguem a xatear-me.... n havia razoes para desmaios...

Foi tal e qual como o Feher.... ele ate tava a sorrir..... como eu tentava..........

Quando menos esperamos... as cores desaparecem e adormecem num sono profundo, sem fundamento e sem destino... as notas esvoaçam sem direcção e dispersam-se dilatando-se nos atalhos das avenidas sonoras. Tropeçam nos trilhos das teclas e desfalecem-se lentamente, até perderem todo o sentido e solidez interior...
Assim expiram num último suspiro...

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